Sonho de Voo I
Tinta acrílica, bastão de óleo, colagem e materiais riscadores sobre madeira, papel e tela, 2018-2019
Quinto Elemento
150 x 150 cm.
inta acrílica, bastão de óleo e colagem s/ madeira
Sobre o vôo, e o vôo na obra
Pensemos, antes de mais, no vôo como o movimento que eleva e nos tira os pés do chão. A impossibilidade do vôo é talvez um dos motivos de maior inquietação para os homens, um dos desejos mais primitivos e mais distantes da condição de se ser humano. Não foi o homem, de modo nenhum, concebido para voar. Contudo, a ideia de aproximação a uma tal esfera (bem acima da terra) parece inebriar-nos com sentimentos de leveza e de liberdade; e esses são, possivelmente, os sentimentos que mais procuramos estabelecer em nós de um modo estável, mais ou menos permanente. A condição humana sujeita-nos a um lugar de relação com a vida e com o mundo ao nível do chão e apenas a posição vertical nos deixa, de certo modo, lidar com o ar, mas a uma altura que não perspetiva o todo, que apenas se mistura com ele.
O desejo do vôo está certamente relacionado com a impressão de aprisionamento causada por essa forma de vida a que estamos sujeitos. Porque naturalmente procuramos algo fora da vida – mesmo que nada possamos encontrar para além da vida -, mas que a sustente, no sentido de uma harmonia e do apaziguamento. O mais interessante é que, não sendo essa condição verdadeiramente ultrapassavel, em termos físicos, a elevação possa trabalhar-se ao nível da consciência. Podemos pensar simbolicamente numa elevação que nos tira do chão, para que a ele voltemos, depois, livres do que antes nos toldava a visão e nos empurrava para o mundo denso das coisas e dos acontecimentos, sem nenhuma saída.
Saber voar deve então prender-se, sobretudo, com a capacidade de elevar o pensamento até aos valores mais leves, procurando uma visão mais aberta que dilua as fronteiras do conhecido, para alcançar um espaço maior, onde mesmo os movimentos do corpo parecem libertar-se das forças que nos determinam a postura, o ritmo, etc. Isto é talvez o que mais interessa à pintura. E também a nós, outros homens, observadores e que a partir do trabalho da artista, podemos – reconhecendo o movimento que ela procura e nos oferece – usar a sua pesquisa a favor o nosso próprio ensaio (para o vôo). É um ponto de partida como qualquer outro.
…
Porque se essa efetivação não acontece do modo esperado, ela permanecerá para sempre na obra, dentro dela e fora dela, na consciência da autora e na experiência de quem vê. A não efetivação do vôo alimentará sempre o trabalho, até que se transforme, através dele, pela mão da Mónica, na apresentação de outras pesquisas e de outros movimentos de compreensão da vida como a expressão de uma relação.
Maria Joana Vilela, 2019
Elementos I, II, III, IV, V e VI
70 x 50 cm
Tinta acrílica, bastão de oléo e colagem s/ madeira
A miniatura é uma das moradas da grandeza I, II, III, IV, V e VI
42 x 30 cm
Tinta acrílica, materiais riscadores e colagem s/ papel
Água e Ar
145 x 100 cm
Tinta acrílica e bastão de óleo e colagem s/ tela
Terra e Fogo
145 x 100 cm
Tinta acrílica e bastão de óleo e colagem s/ tela
Se no céu as imagens são pobres, os movimentos são livres
200 x 210 cm
Tinta acrílica e bastão de óleo e colagem s/ tela
O ser que sobre vê apagarem-se os contornos do abismo
40 x 120 cm
Tinta acrílica, guache e materiais riscadores s/ papel
Sonho de Voo, Adega 23, Castelo Branco, 2019
Fotografias: Bildstudium