P&B

Tinta acrílica e colagem s/ papel, 2011-2010

O abandono da cor (para não distrair nem ser distraída) e a preocupação com as formas deu lugar a um trabalho exploratório da mancha, da procura do equilíbrio, da composição, da fuga para a abstração como evolução estética e não como veículo romântico de auto-expressão. Embora qualquer coisa de imanente à natureza surja na pintura, o meu ponto de partida já não é o que tem a figura como orientação, ainda que continue a procurar uma linguagem com sintaxe e semântica.

Eu tenho a mão que aperreia, eu tenho o sol e a areia, eu sou da América

150 x 150 cm

Pintura Reconstruída

150 x 130 cm

A série representa um culminar de uma exploração praticamente tátil de materiais e formas. E desenvolveu-se instintivamente: o re-arranjar de imagens que resultaram de trabalhos cuja composição final considerei incongruente como é o caso da Pintura Reconstruída; o trabalhar da mancha, o fazer e refazer de uma experiência a preto e branco. A narrativa desta criação é uma constelação, uma ficção pós-moderna a diferentes vozes.

Cara feia para mim é fome

150 x 150 cm

Natureza morta em aperto

150 x 150 cm

A cavalo dado não se olha o dente

150 x 150 cm

Sinfonia

150 x 150 cm

A obra de Mónica Mindelis é uma exploração singular dos limites da representação das sensações estéticas e onde se destaca pela apropriação e proficiência numa linguagem pictórica com raízes no século XX. 

A estrutura pictórica nasce da exploração inicial da mancha onde se intrometem e são incorporados os movimentos e imagens que a artista, como flâneuse, absorve da vivência urbana. Cada obra é o resultado de um passo inicial em direcção ao vazio da tela onde vão surgindo os seus componentes. O processo prolonga-se até que a tela atinge o seu momento de compleição. Essa conclusão dá-se ao encontrar um equilíbrio entre os elementos mais ousados e os mais subtis, ao atingir a tensão pretendida. 

As obras remetem para uma poesia plástica onde o silêncio da tela branca é substituído pelo ritmo musical com paralelo no gesto que pinta. Como em Tapiés, em Mindelis há um processo ético: as pinturas são a realidade sob a forma de temas para meditação; a sua exibição envolve os espectadores numa comunidade invisível e de afectos com a artista. Esta preocupação ética é visível também nos seus projectos de arte pública que acabam por ser enunciados conceptuais que vaticinam um florescer das preocupações de usabilidade urbana e de consideração para com o Outro, essenciais para a intervenção artística socialmente significativa. 

A coexistência da pintura e da criação conceptual é evidente e necessária uma vez que Mónica Mindelis tem ainda um trabalho de exploração da forma e da mancha inacabado como é, por natureza, qualquer exploração estética plástica nas mãos de quem não se intimida com limites nem com o percorrer (re)criativo do caminho já por outros trilhado. 

Cláudia Dias 

Fotografias: Bildstudium